Tempo que se esvai

20/08/2018 13:33

"Frente à vivência do tempo, a atitude existencial tipicamente encontrada na nossa época é seu preenchimento completo, que dá ares de efetividade e produtividade, ressaltando a valorização social do trabalho. Devemos nos esforçar para, quem sabe, obter recompensas futuras, embora hoje não confiemos como antes na possibilidade de recebê-las num mundo pós-morte. Esperamos receber as graças advindas de nossos esforços ainda em vida, mas de que forma estas aconteceriam? Seria possível identificar um marco no tempo em relação ao qual nos julgaríamos satisfeitos com o esforço até então despendido e dispostos a aproveitar a vida prazerosamente, ou este prazer nunca chega, alongando o empenho esforçado na conduta da vida? Por acaso nós seríamos capazes de nos dar conta da natureza do tempo de nossa existência, ou, como pontual Dalai Lama, esquecemo-nos da nossa mortalidade, julgando apenas o tempo cronológico que nos diz o que deve ser feito amanhã, depois de amanhã e na semana seguinte, ditado pelos compromissos pessoais, enquanto a ampulheta fa existência se esvai?"

 

Artigo O ritmo do tempo n vivência existencial, de Ana Cláudia Yamashiro Arantes, psicóloga e filósofa, publicado no livro Cronos Ensandecido, orranizado por Sérgio Pripas