Sentido

06/09/2015 20:21

"Quando Nietzsche declara que não há nenhum sentido a ser buscado na existência, ele não quer absolutamente dizer que a existência é vã e sem interesse, que falta ali qualquer 'razão de viver'. O tema nietzscheano da insignificância do mundo designa somente a impossibilidade - salvo ilusão e traição - de reconhecer nele um sentido à altura da palavra e da inteligências humanas. Schechta diz mais uma vez com justeza: 'Nietzsche tenta em sua obra tornar claro: a) que o mundo na verdade não tem sentido algum; b) que toda a atribuição de sentido não foi até aqui senão um ato intermediário demasiado humano.' Segundo Nietzsche, qualquer significação é falsa, pois de ordem antropormófica; mas isso não implica que se está em posição de decretar uma não-significação geral das coisas. Semelhante afirmação seria vã e contraditória, concernindo um campo do qual se reconhece , precisamente, que não se entende nada. Do mesmo modo Hume critica as ideias que as homens têm da causa, do próprio sujeito, de Deus: mas daí não deduz, no entanto, que 'não há' causa, sujeito, Deus. Tais denegações seriam exatamente tão absurdas quanto as teses às quais elas se opõem. Simplesmente, não há aqui nada para ser pensado - nada, quer dizer nada que afirme, mas também, necessariamente, nada que negue. É um pouco o que Lacan, a seu modo, exprimiu, não respondendo a questão indiscreta de um ouvinte que queria saber se ele acreditava ou não na existência de Deus nem com sim, nem com não, mas assim: 'É curioso, para mim tanto faz como tanto fez'. 

Clement Rosset, Alegria a força maior