Platão, sempre ele

07/02/2016 16:08

"Essa substituição não me parece desprovida de consequências políticas diretas. Naquilo que se pode entrever do Sócrates real, o gesto de destruir as convicções tem como resultado remeter o interlocutor às decisões da pólis. A questão poderia ser formulada do seguinte modo: 'Você não tem certezas, nenhum de nós as tem. Iremos, pois, decidir, todos juntos, o que decretamos ser justo, injusto, legal, ilegal...' Por outro lado, quando emergem em Platão o mundo das ideias, as verdades eternas, o filósofo-rei que trabalha a massa humana de acordo com seus modelos, a questão se enunciaria do seguinte modo: 'Você contemplou o Uno-Bem-Belo, você irá governar de acordo com esse conhecimento absoluto, e, desse modo, a ordem do mundo será restabelecida e mantida...' Evidentemente, não é de modo algum a mesma configuração!"

"Platão deveria detestar mais intensamente, no materialismo de Demócrito, o fato de esse privar o mundo inteiramente de toda significação. Para Demócrito, com efeito, a realidade é rigorosamente desprovida de sentido. Ainda que os homens devam necessariamente atribuir-lhe um significado, a natureza não possui nenhuma por si mesma. Esse filósofo sem dúvida foi, na história ocidental, o que primeiro levou até o fim o desencantamento e a desilusão." 

 

Roger-Pol Droit, Passeio pela Antiguidade