Pináculo da criação?

05/07/2016 00:29

"'O homem é o único animal que...' Essa é a tese que o primatologista Frans de Waal defende com ardor em 'Are we smart enough to know how smart animals are?' (somos espertos o suficiente para saber quão espertos são os animais?). Como em outros livros do autor, ele nos inunda com histórias incríveis de façanhas intelectuais de bichos. Conta que polvos usam casacas de coco como ferramenta, que elefantes são capazes de distinguir idiomas humanos, que macacos japoneses aprendem a lavar batatas doces com água e passam a técnica às próximas gerações. A isso se somam as evidências de que chimpanzés fazem política e até pagam propinas a aliados, sem mencionar os corvos, que estão se revelando verdadeiros Einsteins do reino animal. Uma das principais previsões de De Waal é a de que cada capacidade cognitiva  que identificamos no homem será mais antiga e mais disseminada do que sugeriam as primeiras suposições. A evolução darwiniana raramente dá saltos. Ao contrário, tende a operar através de mudanças incrementais. Nossas diferenças cognitivas em relação a outros animais, não apenas mamíferos, são muito mais em grau do que de natureza. É pena que um certo chauvinismo típico de nossa espécie nem sempre nos deixe ver isso e insista em ver o ser humano como pináculo da criação."

 

Hélio Schwartsman em artigo no jornal Folha de São Paulo em 3/6/2014