O inconsciente
23/01/2017 13:47
"O espectro familiar que anda comigo
Sem que pudesse ainda ver-lhe o rosto,
Que umas vezes encaro com desgosto
E outras muitas ansioso espreito e sigo,
É um espectro mudo, grave, antigo,
Que parece a conversas mal disposto...
Ante este vulto, ascético e composto
Mil vezes abro a boca... e nada digo.
Só uma vez ousei interrogá-lo:
'Quem és (lhe perguntei com grande abalo)
Fantasma a quem odeio e a quem amo?'
- 'Teus irmãos (respondeu) os vãos humanos,
Chamam-me Deus, há mais de dez mil anos...
Mas eu por mim não sei como me chamo...'"
Antero de Quental, O inconsciente