Lulismo

21/10/2015 12:30

"Durante o ciclo expansivo da economia, no entanto, certas contradições sociais forma se acumulando, preparando a reviravolta atual. Apesar do aumento impressionante do assalariamento formal ocorrido na última década, um processo que reconciliou as classes trabalhadoras com a utopia brasileira do progresso ocupacional com proteção social, em média 94% do emprego criado pagava até 1,5 salário mínimo. Já em ritmo de desaceleração, em 2014, cerca de 97,5% do emprego criado pagava este mesmo valor. Além disso, os postos criados foram ocupados , majoritariamente por mulheres, jovens e negros. Ou seja, aqueles trabalhadores que tradicionalmente recebem menos e são mais discriminados no mercado de trabalho. 

Vale destacar que, ano após ano, o número de acidentes e mortes no trabalho cresceu e a taxa de rotatividade do emprego aumentou, dois indicadores claros de deterioração da qualidade do trabalho criado durante o lulismo. E como seria diferente se os principais motores do atual regime de acumulação pós-fordista e financeirização são a indústria da construção pesada e civil, a agroindústria e o setor de serviços? Além disso, apesar do crescimento econômico recente, a estrutura social brasileira não superou sua condição de semiperiférica - o que implica a combinação de um grande número de empregos baratos com baixo índice de investimento em ciência e tecnologia, fortalecendo o despotismo empresarial." 

Ruy Braga, artigo "Contornos do Lulismo", revista Cult