Interpelação produtora

01/09/2015 01:28

"Para perceber este perigo é preciso perguntar: de que maneira está o homem exposto a este poder da interpelação produtora? O próprio homem está sem disso dar-se conta, interpelado, isto é, provocado a cultivar racionalmente o mundo ao qual pertence. É provocado a fazê-lo, de modo geral, enquanto fundo de reserva calculável, e assegurar-se, ao mesmo tempo, sob o ponto de vista das possibilidades de exploração racional. Assim, o homem permanece condenado à vontade de cultivar o que é calculável, e de sua factibilidade. Entregue ao poder da interpelação produtora, o homem barra-se a si mesmo o caminho para o elemento essencial de sua existência. Nem a ameaça exterior que vem de uma catástrofe mundial no sentido de destruição física do homem, nem a ameaça interior que nasce da transformação do homem na subjetividade que se exalta voltando-se contra si mesma, contêm a ameaça decisiva para a humanidade do homem. Pois ambas já são apenas consequências do destino que reside no fato de o homem, entregue ao poder da interpelação produtora, exercer, como aquele que foi provocado por este poder para servi-lo, a segurança do fundo de reserva do mundo e com isso lança-se no vazio. A isto corresponde sorrateiro tédio que, aparentemente condicionado por nada e jamais propriamente confessado, é encoberto pelo movimento da informação, pela indústria da diversão e do turismo, mas de nenhum modo é eliminado."

Martin Heidegger, Uma carta (em O fim da filosofia ou a questão do pensamento)