Dilma vista por ex-petista
"Qualquer um ganharia a eleição com apoio do Lula na época. O problema é que o Lula nunca quis um petista melhor do que ele. Ela (Dilma) se ofereceu meio santarrona, obediente. Como se acha certa e honesta, acha que pode tratar todos com grosseria. Lula não percebeu que ela não tinha exeperiência nem acadêmica, nem na iniciativa privada, no partido, no sindicato, grêmio estudantil. Era uma ostra fechada em sua concha. Sem querer dar uma de analista, acho que a presidente Dilma, como escolheu o caminho militar para fazer o bem, começou a desprezar todos os outros, mais demorados. Está largando para lá Lula e petistas. Aprendeu a decidir com impaciência e foi esse traço autoritário de sua personalidade que Lula, com o autoritarismo oculto que pratica, confundiu com competência. Dilma é a última improvisação do governo Lula."
"Só a gestão Graça Foster na Petrobrás vale um impeachment. Mas ficando somente no que anda sendo discutido. São três vertentes do impeachment. Tem uma política, que é esse isolamento esplendoroso da Dilma. Tem uma econômica, que é a desmodernização da atividade econômica, com fim do Plano Real. E tem a vertente psicológica, cultural, que são as tendências do processo não se evaporarem com a transformação. As tendências desse processo de desencanto com o governo não se evaporam com o transcurso do processo. O momento pode permanecer ativo se não houver impeachment. E a expectativa que ele oferece, se houver o impeachment, é desconhecida. Essa é a paralisia brasileira atual."
"A presidente tem duas grandes limitações. Imagina que é possível governar sem se fazer governável e imgina que, ao governar, ela diminui a sua qualidade como pessoa por causa da análise negativa que tem da sociedade política brasileira. Ela tem dois problemas que me parece que estão na origem dessa incompreensão. O primeiro é que a presidente parece que considera esplendoroso seu isolamento político. Vê valor e qualidade no fato de não gostar de política. O segundo é que passa a impressão de que o Brasil deve a ela algum favor."
Ex-deputado petista Paulo Delgado em entrevista à revista Eu&Fim de Semana, do jornal Valor de 5/2/2016