Criação e destruição

18/04/2016 13:25

"É certo que muitas vezes dizem os homens que mais se deve temer doença e desonra do que o abismo da morte, e que sabem que a natureza do espírito é a do sangue, ou até a do vento, se a tanto os leva a fantasia, e que, portanto, para nada precisam da nossa doutrina: mas é bom que vejas, pelo que segue, que se trata mais de jactância e de fanfarronice do que de qualquer real fundamento."

"E já agora está o tempo sem forças, já a terra cansada mal cria os animais pequenos, ela que criou todas as espécies, e produziu, gerando-os, os corpos enromes dos animais bravios. Realmente, creio que as espécies mortais não desceram lá de cima do céu, por meio de cordas, a campos de ouro, nem as criaram o mar e as ondas que batem nos rochedos: gerou-as a própria terra, que as alimenta agora com seu corpo."

"E tudo o que saiu da terra à terra volta, tudo o que foi enviado das regiões do céu outra vez o recebem os espaços do céu. A morte não destroi os corpos a ponto de aniquilar os elementos da matéria; só lhes quebra a união. Depois combina-os de outro modo e faz que todas as coisas modifiquem as formas e mudem a cor e adquiram sensibilidade, manifestando-a logo; isto te fará ver de que importância são para os mesmos elementos as combinações e as posições que possam ter e os movimentos  que entre si transmitam e recebam; não tomes, pois, como podendo residir nos elementos primordiais e eternos o que vemos flutuar à superfície das coisas e nascer por instantes e subitamente perecer."  

 

Tito Lucrécio Caro, Da natureza