Controle contínuo

27/11/2019 12:50

"Passamos do trabalho escravo para o trabalho livre. O tal trabalho livre, no entanto, ao menos nas grandes cidades, ganhou novamente a sua prisão, o seu lugar fechado: as fábricas. Elas deram a disciplina utilizada em vários outros lugares: escolas, hospitais, escritórios, tipografias, a caserna etc. Deleuze lembra que instituições deste tipo, regradas pelo taylorismo e pelo fordismo, geraram a chamada 'sociedade disciplinar'. Seu auge se deu com o pós-guerra. Mas, após a financeirização, esse tipo de sociedade deu espaço para a 'sociedade de controle'. O indivíduo saiu do ambiente de internato, da disciplina, inclusive ou principalmente corporal, para o ambiente mais flexível, aberto, solto na própria sociedade. A partir daí, nasceu aquilo que Byung-Chul Han chama de homem do neoliberalismo, que se autoexplora nas condições de empresário e trabalhador ao mesmo tempo, e que imagina estar se divertindo no trabalho, dado que as formas lúdicas adentraram o espaço do trabalho - uma observação feita por Peter Sloterdijk. Em vez de disciplina, essa nova sociedade inaugurou o controle contínuo."

 

Paulo Ghiraldelli, A filosofia explica Bolsonaro