Ciclo agrícola

16/10/2015 11:26

"As narrativas ugaríticas sobre Baal, porém, não falam apenas de suas vitórias gloriosas, mas também de sua derrota no combate a Mot, o deus da morte, o qual, como você talvez tenha imaginado, é capaz de matar as próprias divindades. Mot acaba devorando Baal, como se ele fosse um mortal qualquer. O deus derrotado, porém, é vingado por sua irmã (e, segundo certas interpretações dos textos de Ugarit também sua esposa) Anat, uma feroz deusa guerreira que tem o cativante hábito de fazer colares e cintos com mãos e as cabeças decepadas de seus inimigos. Após cometer toda sorte de atrocidades com o cadáver de Mot (moendo-o, por exemplo) Anat presencia a ressurreição tanto de seu irmão quanto de seu arqui-inimigo. Baal e Mot realizam então um tira-teima do duela anterior, mas desta vez quem sai vencedor é o deus da tempestade, que assume, enfim, o papel de governante do Universo, delegado a ele pelo velho El. Acredita-se que a narrativa da morte e ressurreição de Baal se encaixe no padrão tradicional de mitos sobre deuses que morrem e voltam à vida, simbolizando o ciclo agrícola - a ideia de que os grãos de trigo enterrados no solo precisam 'morrer' primeiro para depois produzir a exuberância da colheita."

Reinaldo José Lopes, Deus, como ele nasceu